Há alguns dias, Gretchen partiu para o auto-exílio, nos Estados Unidos. Levou consigo o décimo quinto marido e o seu antológico bumbum. A notícia passou despercebida por grande parte da mídia, o Brasil não sabe o que está perdendo. O fim da carreira do seu maior símbolo cultural merece apenas uma nota em um jornal qualquer.
A importância de Gretchen para o País é maior que a de João Gilberto, por exemplo. Eu mesmo não tinha consciência disso até assistir ao documentário “Gretchen Filme Estrada”, lançado recentemente pela jornalista gaúcha Eliane Brum e o documentarista Paschoal Samora. O filme faz uma narrativa da campanha de Gretchen à prefeitura de Itamaracá, em Pernambuco, em 2008. A ideia era revelar a transformação da artista em política. Não foi possível. Gretchen perdeu a eleição e continuou rebolando.
A Rainha do Bumbum começou a rebolar em plena Ditadura Militar. E continuou durante o movimento das Diretas-Já, viu o Collor mandar e desmandar no Brasil, assistiu à expansão da internet e lamentou duas ou três guerras. Tudo assim: rebolando. Enquanto o mundo acontecia, Gretchen e seu bumbum rebolavam incansavelmente.
Aos cinqüenta anos, em 2008, ela finalmente se cansou e por isso foi tentar a carreira na política. Queria fazer mais pelo Brasil aposentando seu lado artista. Lutou pelo direito de ser, ao menos uma vez, simplesmente Maria Odete Brito de Miranda. Não deu certo. No filme de Eliane e Paschoal, Gretchen rebolava nos circos pelos confins do Brasil, acreditando que aquelas seriam suas últimas apresentações. Era sempre uma festa. Crianças desdentadas, mendigos e trabalhadores, sem ter nem o que comer, davam o pouco que tinham para assistir Gretchen rebolando. Seu bumbum ainda hipnotiza, trinta anos e muitas plásticas depois.
Gretchen sempre rebolou ao som de Freak Le Boom Boom e Conga, conga, conga. Nunca ninguém quis saber do resto. As duas músicas sempre foram suficientes. Ela é isso: o seu bumbum mexendo ao som de duas músicas. Melhor símbolo do nosso País não há.
Porém, o Brasil nunca parou para ouvir o que Gretchen tinha a dizer. E ela sempre teve o que contar. Afinal, uma mulher que rebola por trinta anos ao som de duas músicas pelos confins do Brasil tem muito o que dizer. Principalmente a respeito do que é o Brasil. Mas quando se fala em Gretchen o máximo que se tem é deboche. Para a maioria, ela não passa de uma caricatura. O Brasil também. Por isso acredito que a importância de Gretchen e o seu bumbum é maior que a de João Gilberto e o seu violão.
Alguém disse que as lembranças de uma vida são as marcas que ela deixa no corpo. As rugas é que podem dizer o quanto alguém viveu. Gretchen, portanto, optou por esconder seu passado com as inúmeras plásticas. O Brasil faz exatamente o mesmo: apaga o que não lhe cai bem e o que não lhe serve.
Agora Gretchen partiu e quase ninguém se deu conta. Trinta anos depois, seu bumbum parou de rebolar e as duas músicas se calaram. No fim, esta é a história de quase todo brasileiro: rebolar a vida inteira ao som de duas músicas e quando se cansa quase ninguém percebe. A história se apaga com borracha. Ou Botox, o que aparecer primeiro.
Ótima comparação. E vamo que vamo, rebolando povo brasileiro, devagar e sempre. Renovando o botox de tempos em tempos, mas as rugas e estragos estarão sempre lá...como a política, a figurinha muda, mas quem estiver por trás será sempre o falcatrua de sempre, a ruga de sempre. Isso aí né, "conga la conga meu povo"...
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