Elfos-domésticos são criaturas encantadoras. Nasceram apenas para servir a uma família ou instituição. Temem a liberdade mais que tudo e sonham com a escravidão eterna. Existem apenas na ficção, criados pela escritora J. K. Rowling, da série Harry Potter.
De acordo com os livros, os elfos-domésticos se vestem com fronhas de travesseiro. Se o mestre o presenteia com roupas, significa que ele está livre e pode deixar a família para sempre. Para alguns, um horror. J. K. Rowling mostrou também as exceções. A principal dela é Dobby, elfo-doméstico amigo de Harry Potter e que consegue a liberdade sonhada por ele. Final feliz.
Em 2003, uma empresa russa de advocacia pegou no pé da Warner Bros, produtora da série de filmes do bruxo. Alegavam que Dobby, com sua feição de duende, possuia grande semelhança com o presidente russo na época, Vladimir Putin. Coincidência ou não, bem que poderiam estar na seção "separados pelo nascimento".
Vladimir Putin quer muitas roupas para si e nenhuma para os outros. Não passa de um elfo-doméstico rebelde.
Como num passe de mágica, se elegeu mais uma vez presidente. Poderá permanecer assim por mais doze anos.
Putin chegou ao poder em 1999, como primeiro-ministro. Foi eleito presidente no ano seguinte e reeleito em 2004. Em 2008, com o fim do mandato, deu um jeitinho e ajudou a eleger seu pupilo, Dimitri Medvedev. Voltou a ser primeiro-ministro e nunca mais deixou de mandar em seu país. Se imaginaram que um choro, de emoção ou por causa do vento forte, convenceria os eleitores, se enganaram. Putin foi às lágrimas no discurso de vitória e a Rússia esperneou. A suspeita de fraude é certeza para alguns. 100 manifestantes foram presos, entre os 20 mil que protestaram. Segundo especialistas, esse número tende a aumentar nos próximos dias. A Primavera Russa se aproxima.
A indignação deveria ter iniciado muito antes, já que a fraude começa na pré-eleição. Por exemplo, as emissoras de TV, estatais, concederam mais tempo de propaganda para Putin. Enfiaram ele garganta abaixo do povo russo. Sem falar no sistema falsamente democrático do país, onde o processo eleitoral ainda é novidade.
Enquanto o mundo assiste à novela russa com desconfiança, Lula ressurge das cinzas para dar apoio ao seu amigo do peito. Mesmo internado por conta de uma pneumonia, não deixou de publicar uma nota em seu site, parabenizando Vladimir Putin e comemorando a duradoura parceria com Medvedev. Certamente arrancou lágrimas de Putin, dessa vez com alguma verdade.
Lula escreveu assim: "essa união de forças é salutar para o equilíbrio na equação da política mundial. Uma Rússia forte e soberana é de significativa importância para o mundo multipolar e multilateral que emerge no limiar do século XXI. Estou certo de que, sob sua liderança, a Rússia continuará a trilhar o caminho de sucessos que vem alcançando nos planos interno e internacional e que a sólida parceria com o Brasil será aprofundada, intensificando o denso diálogo político que logramos consolidar nos últimos anos".
Ao invés de tantas palavras, Lula poderia presentear os russos com uma peça de roupa. Mais simples e direto. Seria a libertação, como acontece com os elfos-domésticos do Harry Potter. Antes que Dobby se transforme em você-sabe-quem.
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