No prédio onde moro trabalham duas senhoras muito simpáticas. Uma delas aprendeu com uma vizinha minha, também brasileira e que mora aqui há mais tempo, que nós brasileiros nos cumprimentamos com abraços e beijos, diferente de quase todos os canadenses que se limitam a um “olá, como você está?”, muitas vezes evitando qualquer contato físico ou se restringindo a um aperto de mãos. Descobrir que eu e minha esposa também somos brasileiros bastou pra que essa senhora passasse a fazer questão de nos cumprimentar com abraços e beijos calorosos.
Me ocorre agora que, talvez, grande parte desse jeito mais frio dos canadenses seja por desconhecimento a uma forma diferente de comportamento. Para essa senhora, pelo menos, pareceu uma descoberta feliz saber que poderia receber um abraço apertado ao invés de um cumprimento protocolar.
A outra senhora também é muito simpática. E tagarela. Frequentemente a encontro nos corredores do prédio, a cumprimento e, se eu der espaço, ela engata alguma história. Dia desses desci para jogar o lixo e, voltando para o apartamento, passei por ela, que estava com uma carta na mão e o olhar distraído sobre o envelope. Ao me ver, me cumprimentou, como sempre, comentou sobre o clima, como quase sempre, e então voltou sua atenção para a carta que segurava, pensando sobre algo para me dizer.
Contou então que tinha se mudado há muitos anos para Calgary, vinda de outra região do Canadá, deixando muita gente para trás. Dos parentes mais velhos, segundo ela, nenhum se lembrava de entrar em contato, simplesmente por esquecimento, problema de memória mesmo, comum aos mais velhos. Todos, com exceção de uma prima que havia escrito a carta que agora ela tinha em mãos. Essa prima fazia isso sempre, atualizava sua vida por carta. Era rotina entre as duas.
Você já sentiu saudade de algo que nunca viveu? Pois eu senti naquele momento. Saudade de me corresponder por carta. Tudo bem, não sou tão novo assim. Cheguei a viver um pouco disso. Lembro de receber cartas da minha mãe, por exemplo, e até de alguns amigos e namoradinhas. Inclusive, tenho algumas guardadas até hoje. Mas se tratava de algo opcional, não obrigatório. Tínhamos telefone e internet. Enviar uma carta era mais uma questão de charme, romantismo, algo assim. E, pelo que sei, até isso acabou. Evoluímos primeiro a ponto de não mais precisarmos da carta e depois a ponto de não mais querermos a carta.
Faz sentido. Se você tem Whatsapp, e-mail, Facebook, Skype e outras dezenas de opções mais fáceis de comunicação, qual o sentido de gastar tempo escrevendo uma carta que demorará dias para chegar? Sem contar o fato de que, provavelmente, quando a carta finalmente alcançar o seu destinatário, aquilo que você contou já vai ter ficado velho. Imagina então se a resposta vier também por carta? A pessoa vai comentar aquilo que nem faz mais sentido.
É estranho até pensar como um dia pudemos viver assim, sem termos outra opção. Mas confesso que achei bonito esse costume da senhora do meu prédio por ser, talvez, um saudosista em algumas questões. Prefiro jornal de papel ao digital e vitrola ao Spotify. Mas isso não quer dizer que eu queira abrir mão do Whatsapp. Não. O que tenho claro em mim é a convicção de que existem coisas que cabem melhor em uma carta escrita a mão do que em uma mensagem digitada no computador ou no celular.
Você pensa mais sobre o que dizer, escreve com mais capricho e cuidado e se aprofunda mais no que tem pra contar. A carta é um jantar especial com conversa a dois, enquanto o papo no celular é um encontro informal com diálogos mais superficiais. Cada um tem seu espaço. Sem contar o fato de que a carta se transforma quase em um documento. Você guarda como lembrança. Fui olhar agora, por curiosidade. A carta que a minha mãe me enviou e que tenho guardada até hoje é de 1996, ou seja, já tem mais de 20 anos!
A senhora do meu prédio encerrou aquele papo com um conselho simples, mas muito difícil de seguir. Disse que devemos manter contato com os parentes e amigos enquanto estamos aqui, pois depois que formos embora não será mais possível. Guardei aquela lição bem guardada. Como as cartas da minha infância.
Me ocorre agora que, talvez, grande parte desse jeito mais frio dos canadenses seja por desconhecimento a uma forma diferente de comportamento. Para essa senhora, pelo menos, pareceu uma descoberta feliz saber que poderia receber um abraço apertado ao invés de um cumprimento protocolar.
A outra senhora também é muito simpática. E tagarela. Frequentemente a encontro nos corredores do prédio, a cumprimento e, se eu der espaço, ela engata alguma história. Dia desses desci para jogar o lixo e, voltando para o apartamento, passei por ela, que estava com uma carta na mão e o olhar distraído sobre o envelope. Ao me ver, me cumprimentou, como sempre, comentou sobre o clima, como quase sempre, e então voltou sua atenção para a carta que segurava, pensando sobre algo para me dizer.
Contou então que tinha se mudado há muitos anos para Calgary, vinda de outra região do Canadá, deixando muita gente para trás. Dos parentes mais velhos, segundo ela, nenhum se lembrava de entrar em contato, simplesmente por esquecimento, problema de memória mesmo, comum aos mais velhos. Todos, com exceção de uma prima que havia escrito a carta que agora ela tinha em mãos. Essa prima fazia isso sempre, atualizava sua vida por carta. Era rotina entre as duas.
Você já sentiu saudade de algo que nunca viveu? Pois eu senti naquele momento. Saudade de me corresponder por carta. Tudo bem, não sou tão novo assim. Cheguei a viver um pouco disso. Lembro de receber cartas da minha mãe, por exemplo, e até de alguns amigos e namoradinhas. Inclusive, tenho algumas guardadas até hoje. Mas se tratava de algo opcional, não obrigatório. Tínhamos telefone e internet. Enviar uma carta era mais uma questão de charme, romantismo, algo assim. E, pelo que sei, até isso acabou. Evoluímos primeiro a ponto de não mais precisarmos da carta e depois a ponto de não mais querermos a carta.
Faz sentido. Se você tem Whatsapp, e-mail, Facebook, Skype e outras dezenas de opções mais fáceis de comunicação, qual o sentido de gastar tempo escrevendo uma carta que demorará dias para chegar? Sem contar o fato de que, provavelmente, quando a carta finalmente alcançar o seu destinatário, aquilo que você contou já vai ter ficado velho. Imagina então se a resposta vier também por carta? A pessoa vai comentar aquilo que nem faz mais sentido.
É estranho até pensar como um dia pudemos viver assim, sem termos outra opção. Mas confesso que achei bonito esse costume da senhora do meu prédio por ser, talvez, um saudosista em algumas questões. Prefiro jornal de papel ao digital e vitrola ao Spotify. Mas isso não quer dizer que eu queira abrir mão do Whatsapp. Não. O que tenho claro em mim é a convicção de que existem coisas que cabem melhor em uma carta escrita a mão do que em uma mensagem digitada no computador ou no celular.
Você pensa mais sobre o que dizer, escreve com mais capricho e cuidado e se aprofunda mais no que tem pra contar. A carta é um jantar especial com conversa a dois, enquanto o papo no celular é um encontro informal com diálogos mais superficiais. Cada um tem seu espaço. Sem contar o fato de que a carta se transforma quase em um documento. Você guarda como lembrança. Fui olhar agora, por curiosidade. A carta que a minha mãe me enviou e que tenho guardada até hoje é de 1996, ou seja, já tem mais de 20 anos!
A senhora do meu prédio encerrou aquele papo com um conselho simples, mas muito difícil de seguir. Disse que devemos manter contato com os parentes e amigos enquanto estamos aqui, pois depois que formos embora não será mais possível. Guardei aquela lição bem guardada. Como as cartas da minha infância.
I Really enjoyed this post
ResponderExcluircommunication is key and i try to keep in touch with my relatives back home in Nigeria.