Dia desses um colega de trabalho me perguntou se eu conversava frequentemente com meus amigos do Brasil. Respondi que sim, que ainda mantinha certo contato, porém muito menos do que eu gostaria. Ele emendou outra pergunta: e com seus amigos de infância?
Quem me conhece sabe que já morei em muitos lugares diferentes, permanecendo em média por quatro anos em cada cidade. No início carregado pelo meu pai e suas curvas ora na vida pessoal ora na vida profissional. Depois, bem mais tarde, por decisão minha mesmo. O fato é que, me mudando tanto e desde muito cedo, não preservei nenhuma amizade de infância. Nenhum amigo dos tempos de escola ou do futebol de rua. Desde pequeno, sempre que criava um vínculo mais próximo com alguém ou com uma turma, uma nova mudança se anunciava e, pronto, era isso, bye bye. Mais uma história de amizade ficava pra trás.
Em tempos de amizade virtual, posso dizer que tenho alguns desses amigos da época de escola nas minhas redes sociais, ou seja, até consigo ver como envelheceram e ter uma ideia de como são suas vidas hoje. Se alguém se casa, no dia seguinte vejo as fotos no Facebook. Se alguém engravida, logo sei também. Imagino que eles também acabam acompanhando um pouco da minha vida pela internet. Mas amizade mesmo, de verdade, essa ficou no passado.
Esse meu colega de trabalho nasceu e viveu praticamente a vida inteira na mesma cidade e, por isso, seus amigos são praticamente os mesmos há mais de 30 anos. Sempre que ouço esse tipo de história, um lado de mim lamenta ter tido e ainda estar nessa vida meio cigana. Digo um lado porque o outro normalmente se sente muito grato pelas mudanças e o tanto de aprendizado que elas significaram pra mim. Não sei se hoje conseguiria viver de outra maneira. Mas não adianta, no fundo, sinto um pouco de inveja desse meu amigo.
Sou um romântico inveterado, por isso acho linda a imagem da amizade de infância. É como ter alguém te acompanhando a vida toda, assistindo as suas conquistas e fracassos e torcendo por você. É ter alguém pra dividir as angústias e alegrias. É ter alguém que antecipa a sua fala de tanto que já te conhece. Sabe quando você precisa de ombro e quando você precisa de agito. Um relacionamento livre de qualquer interesse e por isso, talvez, mais puro. Talvez a cronologia de um relacionamento não seja garantia de profundidade e verdade. Mas uma parte de mim insiste em pensar que um amigo que é amigo há vinte anos, por exemplo, não pode ter sua amizade contestada, diferente de um recém-chegado.
Pensando em tudo isso nessa tarde fria que faz em Calgary e descrevendo um pouco do que imagino como amigo de infância, cheguei à conclusão de que estive enganado esse tempo todo. Eu tenho sim amigos de infância e não são poucos. Por exemplo, minha irmã mais velha acompanhou todos os meus vinte e oito anos de vida bem de perto. Trocamos segredos, conversamos muito até hoje e temos uma relação de parceria como poucas. Posso dizer então que são vinte e oito anos de amizade. O mesmo acontece com meu pai, minha mãe e as irmãs que vieram depois da Marina. E quem me conhece sabe que não são poucas. Somos uma família grande. Elas são minhas amigas de infância. Meu pai é meu amigo de infância. Minha mãe é minha amiga de infância. Mesmo minha esposa é minha amiga de infância. Afinal, já trocamos tantas histórias antigas e já vi e revi tantas fotos que a impressão é de que realmente a conheço desde pequena.
Eu também sou meu próprio amigo de infância. Talvez o mais próximo de todos. Porque ainda carrego comigo a criança que fui um dia. Por exemplo, quando assisto a um novo filme do Homem-Aranha, seu/meu herói favorito, ele está comigo. Quando revisito a coleção de quadrinhos que tenho até hoje. Quando ouço uma música dos Engenheiros. Quando assisto a um filme com o Schwarzenegger. São tantas coisas que me levam a ele.
Pensando bem, a partir de hoje mudarei minha resposta. Quando perguntarem se tenho amigos de infância, responderei que sim. E se me perguntarem se ainda mantenho contato com eles, não hesitarei. Direi que sim. Todos os dias.
Quem me conhece sabe que já morei em muitos lugares diferentes, permanecendo em média por quatro anos em cada cidade. No início carregado pelo meu pai e suas curvas ora na vida pessoal ora na vida profissional. Depois, bem mais tarde, por decisão minha mesmo. O fato é que, me mudando tanto e desde muito cedo, não preservei nenhuma amizade de infância. Nenhum amigo dos tempos de escola ou do futebol de rua. Desde pequeno, sempre que criava um vínculo mais próximo com alguém ou com uma turma, uma nova mudança se anunciava e, pronto, era isso, bye bye. Mais uma história de amizade ficava pra trás.
Em tempos de amizade virtual, posso dizer que tenho alguns desses amigos da época de escola nas minhas redes sociais, ou seja, até consigo ver como envelheceram e ter uma ideia de como são suas vidas hoje. Se alguém se casa, no dia seguinte vejo as fotos no Facebook. Se alguém engravida, logo sei também. Imagino que eles também acabam acompanhando um pouco da minha vida pela internet. Mas amizade mesmo, de verdade, essa ficou no passado.
Esse meu colega de trabalho nasceu e viveu praticamente a vida inteira na mesma cidade e, por isso, seus amigos são praticamente os mesmos há mais de 30 anos. Sempre que ouço esse tipo de história, um lado de mim lamenta ter tido e ainda estar nessa vida meio cigana. Digo um lado porque o outro normalmente se sente muito grato pelas mudanças e o tanto de aprendizado que elas significaram pra mim. Não sei se hoje conseguiria viver de outra maneira. Mas não adianta, no fundo, sinto um pouco de inveja desse meu amigo.
Sou um romântico inveterado, por isso acho linda a imagem da amizade de infância. É como ter alguém te acompanhando a vida toda, assistindo as suas conquistas e fracassos e torcendo por você. É ter alguém pra dividir as angústias e alegrias. É ter alguém que antecipa a sua fala de tanto que já te conhece. Sabe quando você precisa de ombro e quando você precisa de agito. Um relacionamento livre de qualquer interesse e por isso, talvez, mais puro. Talvez a cronologia de um relacionamento não seja garantia de profundidade e verdade. Mas uma parte de mim insiste em pensar que um amigo que é amigo há vinte anos, por exemplo, não pode ter sua amizade contestada, diferente de um recém-chegado.
Pensando em tudo isso nessa tarde fria que faz em Calgary e descrevendo um pouco do que imagino como amigo de infância, cheguei à conclusão de que estive enganado esse tempo todo. Eu tenho sim amigos de infância e não são poucos. Por exemplo, minha irmã mais velha acompanhou todos os meus vinte e oito anos de vida bem de perto. Trocamos segredos, conversamos muito até hoje e temos uma relação de parceria como poucas. Posso dizer então que são vinte e oito anos de amizade. O mesmo acontece com meu pai, minha mãe e as irmãs que vieram depois da Marina. E quem me conhece sabe que não são poucas. Somos uma família grande. Elas são minhas amigas de infância. Meu pai é meu amigo de infância. Minha mãe é minha amiga de infância. Mesmo minha esposa é minha amiga de infância. Afinal, já trocamos tantas histórias antigas e já vi e revi tantas fotos que a impressão é de que realmente a conheço desde pequena.
Eu também sou meu próprio amigo de infância. Talvez o mais próximo de todos. Porque ainda carrego comigo a criança que fui um dia. Por exemplo, quando assisto a um novo filme do Homem-Aranha, seu/meu herói favorito, ele está comigo. Quando revisito a coleção de quadrinhos que tenho até hoje. Quando ouço uma música dos Engenheiros. Quando assisto a um filme com o Schwarzenegger. São tantas coisas que me levam a ele.
Pensando bem, a partir de hoje mudarei minha resposta. Quando perguntarem se tenho amigos de infância, responderei que sim. E se me perguntarem se ainda mantenho contato com eles, não hesitarei. Direi que sim. Todos os dias.
Belíssimo texto!
ResponderExcluirObrigado, Bia! :)
ExcluirLindo texto! Penso exatamente assim!
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