Ilustração: @pini.arte A morte é uma grandíssima filha da puta. Traiçoeira, sorrateira, é uma serpente que ataca sem avisar. Me recuso a morrer. Não quero, não posso, não aceito. A coisa vai ficando boa e enquanto vai ficando boa você perde a agilidade, a coragem, a beleza. Não é justo. Você finalmente compreende a marcha e o motor já está prestes a fundir. Ou então é o carro que explode em uma curva da estrada precocemente, sem avisar. São muitas as coisas pelas quais vale a pena viver. O amor. O sexo. Os filhos. O disco novo do Caetano. O filme novo do Almodóvar. O livro de contos do Chico. A beleza lá fora. A estranheza dos dias nublados. Até mesmo o envelhecer faz valer a pena. O único lado negativo de envelhecer é se saber cada vez mais próximo da morte. E a morte não vale a pena. Sim, queria ser eterno porque sempre haverão amores. E gente legal fazendo bons filmes, escrevendo bons livros e dizendo coisas importantes. E não quero perder nada disso. Quero engolir cada