Noite passada, sonhei com a morte. Não com a minha morte, mas com a Morte em carne e osso, se é que isso é possível. Ela mesma, montada em seu cavalo branco, com a áurea cheia de mistério e vazio. A morte, sempre surpreendente apesar de sempre esperada. A morte, nossa única certeza.
Todos sabem que, assim que se nasce já se começa automaticamente a morrer. O cronômetro dispara a contagem regressiva já na maternidade. Aos poucos, o tempo que vivemos vai se tornando maior do que o que iremos viver. O passado fica maior que o futuro. É angustiante, mas inevitável. Nesse intervalo entre nascer e morrer, trilhamos caminhos diferentes para chegarmos ao mesmo fim. O pobre e o milionário, o hétero e o gay, o branco e o negro, todos acabam tendo o mesmo destino.
Eu não temo a morte, só não concordo com ela. Acho revoltante você, de repente, não estar mais aqui. Tantas coisas para se fazer, lugares e pessoas para conhecer, filmes para ver, livros para ler, músicas para ouvir, e justamente no meio de um projeto, no meio de um amor, aproveitando os netos, descansando pelos anos árduos de trabalho... Simplesmente do nada: puf! Acabou. Fim de papo. Seu tempo encerrou. Acho muito injusto. Isso tudo pensando na minha morte, claro. Porque quando se trata da perda das pessoas próximas, o buraco é mais embaixo. Não tenho medo, e sim pavor!
Por essas e outras se torna tão difícil receber a morte com naturalidade. Porque por mais que a gente espere, não sabe quando virá. Seguimos na nossa rotina, sem parar para pensar nela um instante sequer. Então, quase sempre, quando a morte chega, somos pegos de surpresa. E concluímos que ela veio antes do tempo. E sofremos.
Acho que o sonho que eu tive foi por conta do grande número de perdas que tivemos esse ano, sobre as quais venho pensando nos últimos dias. Para citar apenas alguns que partiram em 2014: Nelson Ned, Eduardo Coutinho, Nico Nicolaiewsky, Paulo Goulart, José Wilker, Gabriel García Márquez, Luciano do Valle, Jair Rodrigues, Fernandão, Osmar de Oliveira, João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves, Ariano Suassuna (os três últimos somente em Julho!), Robin Williams, Eduardo Campos, Hugo Carvana, Manoel de Barros, Roberto Gómez Bolaños, o Chaves. Que eu me lembre, nunca vivi um ano com tantas perdas significantes para a cultura e a vida de nosso País. Além disso, as mortes de dois grandes ídolos fazem aniversário hoje: a de John Lennon e a de Tom Jobim. Ambos morreram no dia 8 de dezembro. O primeiro em 1980 e o segundo em 1994. Os dois que, para mim, deveriam ser eternos, de certa maneira o são. Porque os homens morreram, mas as obras ficaram.
Revendo a lista acima, vejo que o mundo perdeu muito esse ano. Ficou mais triste, menos engraçado e surpreendente. A literatura perdeu somente em um mês, João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves e Ariano Suassuna. As palavras decretaram luto! Os sorrisos também diminuíram em 2014, sem Roberto Bolaños, o eterno Chaves, e Robin Williams. E o nosso cinema? Partiram sem dizer adeus, Hugo Carvana, José Wilker, Paulo Goulart e o documentarista Eduardo Coutinho. Não sei vocês, mas acho que 2014 tem um quê de amaldiçoado. Em algum momento cheguei a pensar que o mundo estava acabando e que era essa a forma do Apocalipse.
O único lado bom, se é que existe lado bom nessa história toda, é que 2014 desperta uma reflexão sobre a nossa vida e, conseqüentemente, sobre a nossa própria morte. Porque todas essas pessoas que “viajaram fora do combinado”, deixaram suas marcas nesse mundo. De certa maneira, através de suas obras, se tornaram imortais. Daqui até a eternidade serão lembrados, porque saíram desse mundo deixando-o melhor do que quando chegaram. Essa é a nossa missão: entregar o mundo melhor do que recebemos. E essa é justamente a única maneira de vencermos a morte: imprimindo a nossa marca no mundo. Para isso, não precisa ser artista ou praticar grandes feitos. As grandes notícias não saem na capa do jornal. Conquistamos a vida eterna através dos filhos, de um trabalho bem feito em qualquer área, na relação com as pessoas, e através das nossas pequenas ideias.
Tenho sempre comigo uma frase: a pequena ação faz a grande revolução. Temos que valorizar os pequenos gestos, porque muitas vezes, por querermos fazer sempre algo grandioso, acabamos por não fazer nada. Se você praticar algo único aqui, quando estiver do lado de lá, certamente será lembrado. Então, se a morte é revoltante e inevitável, lutemos para vencê-la. A vida eterna não é coisa de outro mundo como parece.
2014 nos trouxe essa lição, mas por via das dúvidas, não vejo a hora desse ano acabar. Por isso, peço: 2014, morra logo!
Todos sabem que, assim que se nasce já se começa automaticamente a morrer. O cronômetro dispara a contagem regressiva já na maternidade. Aos poucos, o tempo que vivemos vai se tornando maior do que o que iremos viver. O passado fica maior que o futuro. É angustiante, mas inevitável. Nesse intervalo entre nascer e morrer, trilhamos caminhos diferentes para chegarmos ao mesmo fim. O pobre e o milionário, o hétero e o gay, o branco e o negro, todos acabam tendo o mesmo destino.
Eu não temo a morte, só não concordo com ela. Acho revoltante você, de repente, não estar mais aqui. Tantas coisas para se fazer, lugares e pessoas para conhecer, filmes para ver, livros para ler, músicas para ouvir, e justamente no meio de um projeto, no meio de um amor, aproveitando os netos, descansando pelos anos árduos de trabalho... Simplesmente do nada: puf! Acabou. Fim de papo. Seu tempo encerrou. Acho muito injusto. Isso tudo pensando na minha morte, claro. Porque quando se trata da perda das pessoas próximas, o buraco é mais embaixo. Não tenho medo, e sim pavor!
Por essas e outras se torna tão difícil receber a morte com naturalidade. Porque por mais que a gente espere, não sabe quando virá. Seguimos na nossa rotina, sem parar para pensar nela um instante sequer. Então, quase sempre, quando a morte chega, somos pegos de surpresa. E concluímos que ela veio antes do tempo. E sofremos.
Acho que o sonho que eu tive foi por conta do grande número de perdas que tivemos esse ano, sobre as quais venho pensando nos últimos dias. Para citar apenas alguns que partiram em 2014: Nelson Ned, Eduardo Coutinho, Nico Nicolaiewsky, Paulo Goulart, José Wilker, Gabriel García Márquez, Luciano do Valle, Jair Rodrigues, Fernandão, Osmar de Oliveira, João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves, Ariano Suassuna (os três últimos somente em Julho!), Robin Williams, Eduardo Campos, Hugo Carvana, Manoel de Barros, Roberto Gómez Bolaños, o Chaves. Que eu me lembre, nunca vivi um ano com tantas perdas significantes para a cultura e a vida de nosso País. Além disso, as mortes de dois grandes ídolos fazem aniversário hoje: a de John Lennon e a de Tom Jobim. Ambos morreram no dia 8 de dezembro. O primeiro em 1980 e o segundo em 1994. Os dois que, para mim, deveriam ser eternos, de certa maneira o são. Porque os homens morreram, mas as obras ficaram.
Revendo a lista acima, vejo que o mundo perdeu muito esse ano. Ficou mais triste, menos engraçado e surpreendente. A literatura perdeu somente em um mês, João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves e Ariano Suassuna. As palavras decretaram luto! Os sorrisos também diminuíram em 2014, sem Roberto Bolaños, o eterno Chaves, e Robin Williams. E o nosso cinema? Partiram sem dizer adeus, Hugo Carvana, José Wilker, Paulo Goulart e o documentarista Eduardo Coutinho. Não sei vocês, mas acho que 2014 tem um quê de amaldiçoado. Em algum momento cheguei a pensar que o mundo estava acabando e que era essa a forma do Apocalipse.
O único lado bom, se é que existe lado bom nessa história toda, é que 2014 desperta uma reflexão sobre a nossa vida e, conseqüentemente, sobre a nossa própria morte. Porque todas essas pessoas que “viajaram fora do combinado”, deixaram suas marcas nesse mundo. De certa maneira, através de suas obras, se tornaram imortais. Daqui até a eternidade serão lembrados, porque saíram desse mundo deixando-o melhor do que quando chegaram. Essa é a nossa missão: entregar o mundo melhor do que recebemos. E essa é justamente a única maneira de vencermos a morte: imprimindo a nossa marca no mundo. Para isso, não precisa ser artista ou praticar grandes feitos. As grandes notícias não saem na capa do jornal. Conquistamos a vida eterna através dos filhos, de um trabalho bem feito em qualquer área, na relação com as pessoas, e através das nossas pequenas ideias.
Tenho sempre comigo uma frase: a pequena ação faz a grande revolução. Temos que valorizar os pequenos gestos, porque muitas vezes, por querermos fazer sempre algo grandioso, acabamos por não fazer nada. Se você praticar algo único aqui, quando estiver do lado de lá, certamente será lembrado. Então, se a morte é revoltante e inevitável, lutemos para vencê-la. A vida eterna não é coisa de outro mundo como parece.
2014 nos trouxe essa lição, mas por via das dúvidas, não vejo a hora desse ano acabar. Por isso, peço: 2014, morra logo!
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