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Fim da farra das passagens

A opinião pública chiou e condenou a farra das passagens aéreas na Câmara. A princípio não foi suficiente. Os deputados se sentiram injustiçados, bateram o pé. Silvio Costa do PMN, por exemplo, se revoltou. Disse que não podia ficar sem levar sua mulher para Brasília sempre que quisesse. Foi uma declaração de amor digna de aplauso. Mas não funcionou.

Em um escândalo como esse, em que são muitos os políticos metidos no rolo, passa a valer o discurso que todo brasileiro adora: “é tudo pilantra, ninguém presta, tudo bandido.” Os políticos agradecem. Para eles, fica mais fácil se esconder atrás dessa generalização condenatória burra da opinião pública. Assim ninguém contesta. Ninguém presta mesmo.

No fim das contas, foi necessário um passeio rápido por seus estados de origem para que os deputados entrassem em contato com as pessoas que os elegeram e mudassem de idéia. Passaram a defender com unhas e dentes as medidas moralizadoras propostas por Michel Temer. Silvio Costa, inclusive, mudou o discurso, alegando ter feito uma reflexão maior sobre o caso. Acabou dispensando a mulher.

Michel Temer só não imaginava que o escândalo das passagens era tão absurdo. Afinal, os parentes voarem a custa da Câmara não era proibido, o que livraria a cara de grande parte dos envolvidos. O que acontece é que uma boa parte também foi pega desviando bilhetes para operadoras de turismo. Esses estariam mais encrencados.

Temer espera agora dar um basta nos escândalos que rondam a Câmara desde que ele assumiu o comando. Sua preocupação já há algum tempo vem sendo a de dar explicações para a população. Com a atitude, todos querem agora estancar a hostilidade nas ruas. Pelo menos, até o próximo escândalo.

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