Confesso: odeio os singles. Estou falando das músicas avulsas que são lançadas a todo instante nas plataformas de streaming. Pode me chamar de antiquado, talvez eu seja mesmo. Tenho conta no Spotify, assino YouTube Premium, mas amo minha vitrola! E tenho uma saudade imensa da época em que só se lançavam álbuns inteiros, conceituais, em que a obra transcendia as músicas. O artista nos entregava uma experiência imersiva, quase cinematográfica, muito além de apenas uma coleção de faixas. Assim como um livro, um filme, um roteiro completo, que fazia sentido no todo. Já foi difícil abrir mão dos encartes, aquela parte visual da obra que se conectava diretamente com a sonora – os detalhes gráficos, fotos, capa, tudo muito pensado. Além das letras e das fichas técnicas que podiam ser consultadas a qualquer momento. Claro, o mundo mudou. A transição do vinil para o CD, e depois para o streaming, foi uma revolução na indústria musical, e eu sei que, de certa forma, essa mudança trouxe muito...
Quando algum produto da nossa arte alcança a gringa, como o filme Ainda Estou Aqui, candidato ao Oscar, me encho de orgulho e vaidade. E não é porque preciso da aprovação do público gringo para validar a qualidade de algo nosso – tenho plena noção de que o alcance deles é limitado. Convivo diariamente com canadenses e posso afirmar que a maioria não tem a menor ideia do que é o Brasil, muito menos do que faz parte da nossa cultura ou história – e, claro, normalmente não sabem uma palavra em português. Como esperamos que eles, ou os vizinhos estadunidenses, sejam os responsáveis por eleger o que é bom e o que não é dentro da nossa arte? Natural, então, que seja uma tarefa nossa avaliar, já que a maior parte do que produzimos sequer chegará a ser visto ou ouvido fora. Como escreveu o ator (e pensador) Pedro Cardoso, tudo bem vibrar com a glória internacional, desde que a vaidade permaneça no Brasil. O motivo de eu comemorar quando algo nosso ganha espaço aqui é mais pelo fato de eu pod...