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Matem o mensageiro

Lá do Cazaquistão surgiu uma voz em defesa do presidente do Senado, José Sarney. O dono da voz era o próprio presidente Lula, condenando o denuncismo praticado pela imprensa brasileira e exigindo que Sarney não seja mais tratado como "uma pessoa comum".

O denuncismo de que fala o presidente é em relação às frequentes acusações da imprensa sobre o poder legislativo: a farra das passagens, o castelão, os atos secretos. Ou seja, Lula age agora como aquele rei que, diante de uma má notícia trazida por um mensageiro, mandava matar o mensageiro ao invés de resolver o problema.

Se os parlamentares fazem festa com o dinheiro do povo e Sarney privatiza um órgão público como é o Senado, a culpa é de quem denuncia isso tudo. Pelo menos para o nosso presidente funciona assim, o que os olhos não lêem o coração não sente.

Pra variar, Lula mantém a posição de se ausentar diante dos escândalos. Assim como agiu no caso do mensalão, o presidente optou mais uma vez por passar a mão na cabeça dos "condenados pela imprensa".

Outra bola fora é claramente querer usar sua popularidade para legitimar certas atitudes ilícitas de aliados.

E Lula faz escola: Sarney discursou e também saiu pela tangente. Assim como Lula no mensalão, fez que não viu. Não sabia dos três mil reais de auxílio-moradia que entravam em sua conta todo mês, sendo que ele já possuia residência em Brasília, e não sabia que Epitácio Cafeteira (PTB-MA) havia empregado um neto seu.

Na verdade, é essa a verdadeira função da imprensa: atualizar os próprios envolvidos nos escândalos. Afinal, eles nunca sabem de nada. O problema é que eles preferem não saber de nada. Nesse caso, matem o mensageiro e pronto! Resolvido o problema.

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