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No lugar errado na hora errada

O que estamos assistindo no Irã é o conflito entre ditadura e democracia. E, com exceção do presidente Lula, todos sabem de que lado ficar. Digo isso pois, mesmo após os difíceis anos de ditadura enfrentados no Brasil e outros exemplos dessa situação no mundo, o nosso presidente acusou o povo que vai às ruas de Teerã para lutar pela liberdade de "golpista", disse ainda que a eleição que ocorreu por lá é legítima. Vale lembrar que Lula foi o único chefe de estado a apoiar Mahmoud Ahmadinejad.

É difícil prevermos o que vai acontecer no Irã daqui por diante. Porém, é fácil concluirmos que alguma mudança teremos por lá. Afinal, os protestos e as mortes não deverão permanecer infinitamente, mesmo porque uma situação dessas é prejudicial ao próprio governo. Uma maior abertura ou não, não sei, mas algum acordo com os oposicionistas o governo do Irã deverá fazer.

Acho que para o mundo ocidental, com exceção do presidente Lula, a gota d'água se fez com o vídeo que mostrava o momento da morte de uma garota nas ruas de Teerã, no meio dos protestos. O vídeo driblou o sistema de bloqueio à comunicação imposto por Ahmadinejad e chocou o mundo, principalmente após o anúncio de que a garota baleada nem sequer estava protestando no momento em que foi vítima de uma milícia pró-governo. Estava no lugar errado na hora errada. Acabou se tornando mártir e símbolo da luta pela liberdade no Irã.

De Obama pouco se espera, afinal, ele se manteve omisso até o momento. Disse que o importante agora é apenas mostrar o que está acontecendo. Porém, o momento é crítico e exige pressa, para que menos pessoas morram em nome dessa liberdade utópica. Propondo um diálogo maior com o mundo islâmico, Obama conseguiu um certo "crédito". Talvez fosse esse o momento de gastar esse crédito e propor medidas práticas. É uma das poucas esperanças para quem persiste brigando e morrendo nas ruas do Irã.

Enquanto o inimigo do mundo e amiguinho de Lula, Ahmadinejad, tenta arrumar uma forma de conter a revolta, os oposicionistas acreditam poder acabar com o regime teocrático iraniano. Com exceção do presidente Lula, todos sabemos que lado apoiar.

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