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Dilma, a atriz

Quando foi eleita a candidata de Lula para as eleições de 2010, Dilma Rousseff tratou de correr atrás do tempo perdido. Aposentou os antigos óculos, adotou roupas de cores mais claras, mudou o corte de cabelo e passou a sorrir mais.

Enquanto a ministra cuidava do visual, Lula tentava transformá-la em uma lenda viva: mãe do PAC, mãe do pré-sal. Olhando assim, é comum ter a impressão de que Dilma leva o país nas costas, e sempre de bom humor.

Lula tenta desde então transferir para Dilma algo que é muito pessoal e... intransferível: o carisma. Nesse quesito o presidente sempre teve sucesso incontestável. Afinal, 80% de aprovação é pra poucos. Bem poucos. Justamente por isso Lula parece atualmente estar acima do bem e do mal. Se aproveita dos altos índices de popularidade para legitimar ações ilícitas, como fazer campanha antes da hora.

A recente decisão de mandar Dilma Rousseff para debater sobre o meio ambiente na Dinamarca é no mínimo curiosa. Começando pelo fato de que a ministra deve conhecer tanto das questões ambientais quanto da escalação do São Bento, de Sorocaba. Além de ter contribuído para a saída de Marina Silva, especialista nas questões que vão compor o debate em dezembro.

O teatro armado em torno de Dilma Rousseff ganhou ares peculiares. Manobra política desesperada, que transforma a ministra candidata à presidência em uma personagem diferente a cada cena. Basta que o tempo mude. Ou mesmo o humor de Lula.

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