O Brasil está em luto.
O jornalismo perdeu um mestre. As palavras perderam seu guia. Ficaram mudas como a torcida na hora do gol adversário. O esporte ficou sem o seu melhor tradutor, o seu principal porta-voz. Armando Nogueira partiu sem avisar, deixou órfãos os meninos que ele viu, os que ele não viu e aqueles dos quais nem ouviu falar.
Sou desses últimos.
Lembro que certa vez quando comecei a pensar na profissão que escolheria, lá pelos quatorze ou quinze anos, conheci Armando Nogueira. Na época o jornalismo já era meu Plano A. Meu pai, sempre incentivador das minhas idéias, por mais absurdas que pareçam, me presenteou com A Ginga e o Jogo, coletânea de crônicas de Armando Nogueira. O Plano A acabou se tornando o plano único, do qual ainda sou refém. Não tinha como ser diferente.
Principalmente porque Armando Nogueira uniu como poucos duas das minhas paixões: o esporte e a poesia. Nunca pensei que as duas coisas serviriam uma para a outra. Talvez nem sirvam mesmo, nas mãos de outro. Nas do mestre Armando Nogueira, sim.
A habilidade que Pelé mostrou com os pés, Nogueira soube mostrar com as mãos. A facilidade com a qual o Rei driblava e dominava a bola, era a mesma que Nogueira tinha com as palavras. O verso surpreendente ou a frase de efeito eram seus gols de placa. Sua arte em nada se diferencia da de Garrincha, por exemplo.
Já dizia o mestre: se Pelé não tivesse nascido gente, teria nascido bola. E Nogueira, se não tivesse nascido gente? Teria nascido palavra, verso, poema? Não sei. Mas certamente traria o novo.
Além de tudo, foi responsável durante muito tempo pelo jornalismo na TV Globo. Foi ele um dos criadores do Jornal Nacional. Informações essas que chegaram até mim com certo atraso, durante muito tempo conheci apenas o cronista.
Para todos nós, Armando Nogueira deve ser exemplo. Devemos parar o tempo e ver com os olhos da paixão o tédio da vida. Aquilo que acontece e ninguém acusa. Aquilo que de tão bonito torna-se invisível. Ou aquilo que de tão simples acaba por se tornar bonito. Quem sabe ainda traduzir isso tudo em palavras. Sim, devemos.
Espero também que os meninos de hoje não se esqueçam de dizer aos meninos de amanhã quem foi Armando Nogueira. Um mestre da ginga e do jogo. Das palavras.
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