Chico Buarque já foi Julinho da Adelaide.
Na noite de ontem, no Rio de Janeiro, o cantor e compositor reuniu-se com outros artistas e intelectuais para declarar apoio à candidata do PT, Dilma Rousseff. Quem marcou presença foi o Chico mesmo, não o Julinho.
Não resta dúvida de que Chico Buarque de Hollanda é um artista politizado. Participou da Passeata dos Cem Mil, do movimentos das Diretas Já!, escreveu inúmeras canções de protesto como poucos. Ousou na época da repressão, pós-revolução de 1964. Ficou exilado em Roma, na Itália. Sofreu com a censura. Desculpou-se pela duração daquelas temporadas. É dele o título desse texto, que dá nome a uma canção de sua autoria, "Cálice". Cálice, na verdade, quer dizer "cale-se". Saída encontrada para tentar driblar a censura. Não deu certo. Houve um episódio onde ele cantava Cálice com o seu parceiro Gilberto Gil e, mesmo usando palavras desconexas que nada tinham a ver com a letra original, tiveram seus microfones desligados.
Foi aí que surgiu o Julinho da Adelaide.
1968 foi o ano do Ato Institucional N°5. Censura demais, liberdade de menos. Imprensa, artistas, todos sofriam sob o regime dos militares. Estudantes eram torturados. Parentes e amigos iam comprar cigarros e sumiam na escuridão. A ditadura atingia seu momento mais cruel. O nome do Chico, obviamente, chamava a atenção entre os censores. Os responsáveis pela liberação ou não das músicas já se excitavam ao ver o nome do compositor. Chico decidiu então driblar de maneira criativa esse bloqueio. Passou a assinar suas músicas como Julinho da Adelaide.
Não existe arte sem liberdade de expressão.
Para quem viveu os tempos difíceis da Ditadura Militar no Brasil, Chico não parece estar muito preocupado com isso. Afinal, o PT não parece ser tão a favor da liberdade. Zé Dirceu, por exemplo, já discursou contra o "excesso de liberdade de imprensa" que existe no Brasil. Mesmo discurso do presidente Lula, padrinho político de Dilma, candidata apoiada por... Chico Buarque de Hollanda.
Chico parece estar querendo voltar a ser Julinho da Adelaide.
Comentários
Postar um comentário
Deixe seu comentário