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No, we can't


Em 1962 os Beatles já se apresentavam com a formação que ficaria conhecida no mundo inteiro. Foi um começo modesto, construído em pubs de Liverpool, na Inglaterra. Mais tarde, a banda se transformou em uma das histórias de maior sucesso da música mundial e a adoração em torno dos quatro súditos da rainha passou a ser conhecida como Beatlemania.

Em 2008 Barack Obama ainda era candidato à presidência dos Estados Unidos. Mas já arrastava multidão por onde passava, o discurso de "Yes, we can" soava como "Love me Do". O Nelson Mandela moderno parecia saber a solução de todos os problemas, prometia curar os males dos americanos como num passe de mágica. Surgiu então a Obamamania.

Os Beatles se separaram em 1970. Foi um fim precoce mas que só fez aumentar a fama e a mística em torno dos quatro cavaleiros ingleses. Tanto que a Beatlemania resiste até os dias de hoje. Paul McCartney, por exemplo, se apresenta esse mês no Brasil. Ingressos esgotados e o país mobilizado pra ver.

Já o messias do Havaí viu sua máscara cair bem antes do que esperava. A Obamamania durou pouco. O alto índice de desemprego nos Estados Unidos, a economia frágil e as reformas polêmicas, como a da saúde, fizeram os americanos desconfiarem daquele senhor negro de fala mansa e postura professoral. Ontem tivemos a prova disso.

No seu segundo ano de mandato, Obama já passa por uma crise brava. Viu sua popularidade ir pelo ralo. Nas eleições de ontem, perdeu a maioria na Câmara. Agora pode até propor mil ideias para os Estados Unidos sairem da crise, o difícil será conseguir aprová-las.

Ao contrário da Beatle, a Obamamania durou muito menos do que se esperava. Eu sou fã da banda inglesa, vou ver o Paul domingo que vem no Beira-Rio. Sugiro ao Obama que faça o mesmo. Caso resolva subir ao palco não pode se esquecer de mudar a mensagem de "Yes, we can" para "No, we can't". Seria mais honesto.

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