Qual o limite da dor?
Ronaldo deve saber bem, tanto a dor do corpo quanto a da alma. Mas não saberia reconhecer qual é a pior. Os dois lhe deram ares de fenômeno, alguma coisa de super-heroi, lhe recusaram a condição de simples humano. Nos últimos tempos, cobraram o preço que ele se recusou a pagar. No fim não teve jeito, teve que acertar a conta à força.
Ao contrário do que a maioria está dizendo, esta não é a primeira morte de Ronaldo, das duas inevitáveis. O Fenômeno teve tantas outras que fica até difícil de contar. As seguidas contusões e cirurgias, os conturbados episódios na vida pessoal, as noitadas, as mulheres lindas, os travestis. Ronaldo morreu muito mais que uma vez, mas soube renascer sempre.
Por isso a comoção, por ser tão difícil reconhecer o homem, que sempre conseguiu se superar, desistindo. A fraqueza de Ronaldo é a nossa fraqueza, assim como suas alegrias foram as nossas também. Poucos representam tão bem o que é ser brasileiro quanto ele. Nasceu ninguém, conquistou o sucesso na marra e foi caindo e se levantando tantas vezes que muitos até duvidavam que fosse apenas por perseverança. "Não pode ser, tem algo sobrenatural ali", chegavam a imaginar.
Ronaldo foi fenômeno até mesmo na despedida dos campos. Não se importou em se reconhecer humano, chorou e admitiu: seu próprio corpo o derrotara. Agora, a alma também chora, de lamento e alívio pelo descanso. Ronaldo e a bola, que o levou mais longe do que qualquer um imaginaria, estão definitivamente separados. Sorte de quem os viu juntos. Contemos aos outros. Dificilmente acreditarão na história do início ao fim. Mesmo assim, contemos.
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