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O Fantasma de Ricardo Teixeira


A substituição na CBF tem algo de paranormal. De extraordinário.

Ricardo Teixeira decifrou sua arrogância, pediu pra sair e deixou em seu lugar um vácuo com nome de José Maria Marin. O espaço, até segunda ordem, será preenchido por antigos súditos de Teixeira. Seu fantasma permanecerá rondando o centro do poder do futebol brasileiro por muito tempo. Destruiu-se o homem. É necessário agora que se elimine a sombra.

José Maria Marin viu a CBF e o COL despencando juntos em seu colo. Por ser o vice-presidente mais velho, com 79 anos, tomou para si o abacaxi. Confessou que não pretende descascá-lo. No horizonte, nenhum planejamento de mudança. A inconseqüência ainda vai imperar pelas mãos do Zé da Medalha. O apelido Marin recebeu graças ao episódio da premiação da Copa São Paulo de Futebol Júnior deste ano. Câmeras de TV o flagraram embolsando uma medalha, em um gesto que demonstrou bem o seu caráter.

Ricardo Teixeira pode ficar tranqüilo. A CBF está em boas mãos.

Marin, além de pegar o que não é seu, também mostrou que está gagá. O filho do malufismo, durante o discurso de substituição ao poderoso chefão, trocou as bolas. Afirmou que, pelo menos no comitê organizador da Copa, vai participar “junto com outros dois companheiros (...), o fenômeno Romário...”. Até corrigir: “Ronaldo Nazário e Bebeto”. Eis o homem. E ai de quem arriscar dizer que a troca é abuso de poder. Ditadura. Que Marin na CBF é Kadafi tomando banho na piscina de água mineral enquanto o povo líbio morre de sede.

O fantasma de Ricardo Teixeira poderá ser visto também na figura do diretor de patrimônio da Confederação. Guilherme é irmão de Teixeira. Já a filha, Joana Havelange, segue como diretora-executiva do COL. Leonardo Rodrigues, cunhado, é gerente de compras do comitê. Nenhuma surpresa isso vir de quem “cagava de montão” e só se preocupava “com o que saía no Jornal Nacional”.

A derrota de Ricardo Teixeira é o primeiro passo para a vitória do Brasil. A partida está um a zero. Se parar por aí, levaremos o empate e, mais tarde, a virada. Os estados precisam se mexer. Ronaldo não pode servir apenas de marionete ou de homem-propaganda. Pode fazer muito mais.

Caso a troca de seis por meia dúzia se concretize, Marin continuará tomando seu banho, sem pressa, enquanto o futebol brasileiro padece, sedento.

Comentários

  1. Excelente texto...apesar de não ser surpresa que a Aranha rainha desceu , mas deixou a teia GIGANTE bastante habitada por seu exército de animais pessonhentos...

    Abs

    Cláudio Pacheco

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