Pular para o conteúdo principal

Duro de Matar


John McClane é um daqueles personagens que só poderiam mesmo existir na ficção. Pra quem não se lembra, trata-se do herói vivido por Bruce Willis na série Duro de Matar. A obra, que teve o quinto filme lançado há pouco, faz jus ao personagem. É uma franquia que também não morre fácil.

Quem já deu provas o suficiente de que é capaz de ressurgir das cinzas quando menos se espera foi Renan Calheiros. John McClane vive apenas nas telas de cinema. Renan Calheiros é de carne e osso, respira o mesmo ar que eu e você. Renan Calheiros, portanto, é mais incrível que John McClane.

No mês passado, a revista britânica The Economist comprovou isso ao chamar os políticos brasileiros de “zumbis”. Inclusive Renan Calheiros. O artigo analisou a manutenção do poder de pessoas públicas envolvidas em escândalos de corrupção. Pensando melhor, Renan Calheiros está mais pra zumbi do que pra John McClane. Em 2007, ele foi obrigado a renunciar à presidência do Senado, acusado de ter despesas pagas por um lobista de construtora. Esse ano, Calheiros voltou à presidência do Senado. História de cinema. Filme de terror.

Conhecendo a origem do senador, se torna mais fácil entender como ele faz pra se manter em pé. Ontem o programa TV Folha, da TV Cultura, exibiu uma reportagem sobre Murici, cidade alagoana que há onze anos é governada pela família Calheiros. A matéria mostrou a situação precária da cidade e um prefeito fanfarrão: Remi, irmão mais novo de Renan, que cumpre seu quarto mandato.

Remi gosta de futebol. Gosta tanto que investe pesado no Murici F.C., time da cidade. A verba aplicada pela prefeitura é de quarenta mil reais por mês. Os mesmos quarenta mil reais que serviriam pra operacionalizar o centro cirúrgico do único hospital da cidade. Na prática, Remi é o dono do time. Ou seja, investe o dinheiro público em uma empresa privada. No papel, quem aparece como dono é Geraldo Amorim, chefe de gabinete de Remi e o presidente do Murici F.C. Em 2003, Amorim foi registrado como motorista de Renan no Senado. Foi acusado de ser funcionário fantasma.

Renan Filho, filho de Renan, foi prefeito por seis anos entre a sequência de mandatos de Reni. Antes, em 1992, Olavo Calheiros, patriarca da família, ocupou a Prefeitura. Renan Calheiros honra o nome dessa família. Quando menos se espera, ressurge politicamente, como uma fênix. Como John McClane nos filmes. Como um zumbi. Afinal, tudo passa e acaba no esquecimento. Como as falcatruas de Renan e Reni. Como o povo pobre de Murici.

Comentários

mais vistos

Saí do Brasil. E morri.

Estou morando no Canadá há quase um mês. Minha esposa foi aprovada em uma seleção para fazer seu doutorado na cidade de Calgary, a terceira maior do país, e resolvemos vir assim, de mala e cuia. Calgary é um lugar curioso, é chamada pelos íntimos de cowtown, cidade das vacas em uma tradução literal, termo usado para um lugar com fazendas em seus arredores, com um clima mais interiorano, talvez. Só para se ter ideia, o maior rodeio do mundo acontece aqui, então realmente é um lugar de Cowboys e Cowgirls. Mas pretendo contar mais da cidade e da vida aqui depois. Quero focar agora na experiência de se fazer as malas e sair do seu país, seja ele qual for. Apesar de ser pouco tempo de experiência, já pude comprovar algumas impressões que tinha sobre a mudança para o exterior. O que acontece quando você faz as malas e embarca no avião com destino a um lugar completamente diferente do seu? Você morre. Isso mesmo, você morre. Eu morri quando vim. Começa pelo fato de normalmente, nesse tip

O Retrato Rasgado

As fotos de uma vida inteira podem caber no bolso da calça. Temos pen-drive, celular, cartão de memória, tablet, notebook, computador e mais um zilhão de ferramentas para nos auxiliar nesse arquivo infinito enquanto dure. Infelizmente esse fenômeno da tecnologia colocou fim a um hábito comum a maioria das famílias: se reunir para ver fotos. A lembrança que tenho é de retirar do alto do armário caixas e mais caixas, leva-las até a sala para a visita do dia ou para nós mesmos, e começar a retirar um a um os álbuns que contavam a história da família. A cada mergulho no passado perdia-se horas olhando as imagens e comentando o quanto fulano era magro, siclano era cabeludo e assim por diante. O tempo em casa parava e, devagarinho, ia andando para trás. Hoje raramente dedico um tempo para organizar as minhas fotos e muito menos para revê-las. Tenho uma pasta no meu desktop e vou salvando tudo lá, de tempos em tempos, sempre que preciso esvaziar a memória do celular. A tecnologia também n

O Fantasma de Vinte Anos

Todo dia ele faz tudo sempre igual. Acorda às seis da manhã, desliga o despertador do celular, aproveita o aparelho nas mãos para olhar as últimas novidades das redes sociais, a previsão do tempo, o e-mail, e só depois de uns dez minutos é que se vira para o lado, dá um beijo na esposa que levanta as oito e ainda está dormindo, e se ergue da cama. Afinal, não tem escolha. Vai até o closet, separa cueca, meia, calça e camisa e deixa cada peça, uma sobre a outra, lhe esperando. Entra no banheiro. Primeiro liga o chuveiro e só depois tira o pijama, dá o tempo certo de a água esquentar. No banho, sempre a mesma sequência. Primeiro o cabelo – o pouco que lhe restou já está grisalho, muito diferente da cabeleira farta dos seus vinte anos – sempre pensa nisso enquanto esfrega os poucos fios com as pontas dos dedos. Por último os pés. Desliga o chuveiro e sai. Seca o corpo começando pela cabeça, que já está no escritório. Será que responderam aquele e-mail? Será que fulano finalizou a plan