Você já se perguntou do que é feito? Apenas uma junção de órgãos e sentidos que, estando em pleno funcionamento, te permitem existir? Ou você é aquilo que pensa? Tuas idéias, teu estilo de vida, formam tua marca no mundo? Ou será que você é o que possui? O material sobreposto ao imaterial? Quer um tempo para pensar?
Dia desses ouvi em um filme: “cada ser humano não passa de um tubo, processador de merda”. Seria apenas isso? Não sei você, mas eu responderia que todas as alternativas anteriores estão certas. Carregamos cada uma daquelas características, inclusive o tal “tubo processador de merda”. Somos tudo isso e mais um pouco, dependendo unicamente do ponto de vista. Mas, para mim, o principal, aquilo que realmente nos faz humanos, não foi citado: a memória. Ou melhor, a forma com que lidamos com ela.
Somos principalmente resultado daquilo que vivemos, das experiências que adquirimos, dos nossos erros e acertos, enfim, somos um conjunto de lembranças, que formam nossa memória. Cada um carrega consigo cicatrizes, as marcas que a vida deixa. Viver é criar cicatrizes na alma. Grande parte delas só a gente mesmo é que enxerga, outras todo mundo vê. As rugas, por exemplo, são cicatrizes à mostra, escancarando a todos o quanto já vivemos e o infinito que carregamos de lembranças. E quando essa memória, nossa principal característica humana, simplesmente se vai? Começa a se esvair, a se descolar de nós? Perdemos nossa identidade? Deixamos de existir?
Esse é o tema central do filme Para Sempre Alice, com a atriz vencedora do Oscar, Julianne Moore, no papel principal. Ela interpreta a professora de lingüística Alice Howland que, aos poucos, começa a apresentar falhas de memória. Vai se esquecendo de algumas palavras, erra caminhos que já conhece, não reconhece pessoas próximas, entre outras dificuldades do dia a dia. Até que aos cinqüenta anos é diagnosticada precocemente com o Mal de Alzheimer. A partir daí, o longa narra as mudanças na vida da personagem por conta da doença: o impacto na relação com o marido e os três filhos, a aposentadoria na faculdade, a deterioração e a morte daquela Alice que todos conhecem. Sim, porque perder a memória nesse caso é deixar de ser quem se é. A pessoa morre, mesmo permanecendo viva. Quem a cerca não a reconhece mais.
Além de parecer ter se tornado outra pessoa, Alice tem que lidar com a perda de seu bem mais precioso. Apesar do drama, o filme não é apelativo, conduz sutilmente o telespectador ao problema vivenciado pela personagem. É impossível não se colocar na pele de Alice, ou fazer o exercício de imaginar algum ente querido com a doença. Como você reagiria ao saber que tem Alzheimer? Ou como ficaria ao acompanhar o avanço da doença em alguém próximo?
Aproveitando o clima do lançamento do filme, a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) realizou uma ação com este intuito: forçar as pessoas a vivenciarem a sensação de não se lembrar da própria história ou de algum velho amigo ou parente. O vídeo com o resultado da ação está no link abaixo, vale a pena conferir:
https://www.youtube.com/watch?v=QHKM3KCI4cM.
O Alzheimer afeta 35,6 milhões de pessoas no mundo, sendo 1,2 milhão no Brasil. A expectativa é de que, com o aumento da longevidade, o número de pacientes dobre até 2030 e triplique até 2050. Nos Estados Unidos, já é a sexta maior causa de morte na população. Sem dúvida, é uma das doenças de nosso tempo, mas isso não quer dizer que surgiu recentemente. Certamente você deve conhecer a história de algum parente mais velho que foi ficando “gagá” com o avançar dos anos. O “gagá” em algumas situações resume algo bem mais complexo e grave, a ação de simplificar como resultado do desconhecimento.
Em Alice, a personagem do filme, a doença vai avançando e arrancando cada resto de lembrança sem piedade. Um simples gesto, como ir até o banheiro, se torna uma missão impossível. As mesmas perguntas são repetidas diversas vezes ao marido, não porque as respostas foram ignoradas, e sim porque foram puxadas para dentro do túnel escuro do esquecimento. A própria filha se torna uma estranha, como quase todas as outras pessoas. Atingir a velhice nesse estado é triste, pois é a fase da vida em que você mais se apega às lembranças, já que o tempo que está por vir é cada vez menor se comparado ao que já se foi.
Dizem que recordar é viver. Concordo. Mas acrescento: na vida, esquecer é tão importante quanto lembrar. Afinal, existem pessoas, situações e traumas que devem ser varridos da memória, caso contrário a vida se torna pesada demais. É a tal “memória seletiva”. Se recordar é viver, esquecer também é. Mas quando não se tem escolha, como no caso de Alice, definitivamente é como morrer. Nem que seja para renascer no instante seguinte, a memória tendo escorrido como água pelas mãos.
Dia desses ouvi em um filme: “cada ser humano não passa de um tubo, processador de merda”. Seria apenas isso? Não sei você, mas eu responderia que todas as alternativas anteriores estão certas. Carregamos cada uma daquelas características, inclusive o tal “tubo processador de merda”. Somos tudo isso e mais um pouco, dependendo unicamente do ponto de vista. Mas, para mim, o principal, aquilo que realmente nos faz humanos, não foi citado: a memória. Ou melhor, a forma com que lidamos com ela.
Somos principalmente resultado daquilo que vivemos, das experiências que adquirimos, dos nossos erros e acertos, enfim, somos um conjunto de lembranças, que formam nossa memória. Cada um carrega consigo cicatrizes, as marcas que a vida deixa. Viver é criar cicatrizes na alma. Grande parte delas só a gente mesmo é que enxerga, outras todo mundo vê. As rugas, por exemplo, são cicatrizes à mostra, escancarando a todos o quanto já vivemos e o infinito que carregamos de lembranças. E quando essa memória, nossa principal característica humana, simplesmente se vai? Começa a se esvair, a se descolar de nós? Perdemos nossa identidade? Deixamos de existir?
Esse é o tema central do filme Para Sempre Alice, com a atriz vencedora do Oscar, Julianne Moore, no papel principal. Ela interpreta a professora de lingüística Alice Howland que, aos poucos, começa a apresentar falhas de memória. Vai se esquecendo de algumas palavras, erra caminhos que já conhece, não reconhece pessoas próximas, entre outras dificuldades do dia a dia. Até que aos cinqüenta anos é diagnosticada precocemente com o Mal de Alzheimer. A partir daí, o longa narra as mudanças na vida da personagem por conta da doença: o impacto na relação com o marido e os três filhos, a aposentadoria na faculdade, a deterioração e a morte daquela Alice que todos conhecem. Sim, porque perder a memória nesse caso é deixar de ser quem se é. A pessoa morre, mesmo permanecendo viva. Quem a cerca não a reconhece mais.
Além de parecer ter se tornado outra pessoa, Alice tem que lidar com a perda de seu bem mais precioso. Apesar do drama, o filme não é apelativo, conduz sutilmente o telespectador ao problema vivenciado pela personagem. É impossível não se colocar na pele de Alice, ou fazer o exercício de imaginar algum ente querido com a doença. Como você reagiria ao saber que tem Alzheimer? Ou como ficaria ao acompanhar o avanço da doença em alguém próximo?
Aproveitando o clima do lançamento do filme, a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) realizou uma ação com este intuito: forçar as pessoas a vivenciarem a sensação de não se lembrar da própria história ou de algum velho amigo ou parente. O vídeo com o resultado da ação está no link abaixo, vale a pena conferir:
https://www.youtube.com/watch?v=QHKM3KCI4cM.
O Alzheimer afeta 35,6 milhões de pessoas no mundo, sendo 1,2 milhão no Brasil. A expectativa é de que, com o aumento da longevidade, o número de pacientes dobre até 2030 e triplique até 2050. Nos Estados Unidos, já é a sexta maior causa de morte na população. Sem dúvida, é uma das doenças de nosso tempo, mas isso não quer dizer que surgiu recentemente. Certamente você deve conhecer a história de algum parente mais velho que foi ficando “gagá” com o avançar dos anos. O “gagá” em algumas situações resume algo bem mais complexo e grave, a ação de simplificar como resultado do desconhecimento.
Em Alice, a personagem do filme, a doença vai avançando e arrancando cada resto de lembrança sem piedade. Um simples gesto, como ir até o banheiro, se torna uma missão impossível. As mesmas perguntas são repetidas diversas vezes ao marido, não porque as respostas foram ignoradas, e sim porque foram puxadas para dentro do túnel escuro do esquecimento. A própria filha se torna uma estranha, como quase todas as outras pessoas. Atingir a velhice nesse estado é triste, pois é a fase da vida em que você mais se apega às lembranças, já que o tempo que está por vir é cada vez menor se comparado ao que já se foi.
Dizem que recordar é viver. Concordo. Mas acrescento: na vida, esquecer é tão importante quanto lembrar. Afinal, existem pessoas, situações e traumas que devem ser varridos da memória, caso contrário a vida se torna pesada demais. É a tal “memória seletiva”. Se recordar é viver, esquecer também é. Mas quando não se tem escolha, como no caso de Alice, definitivamente é como morrer. Nem que seja para renascer no instante seguinte, a memória tendo escorrido como água pelas mãos.
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