Dia desses alguém me perguntou por que escrevo. Na hora não soube dizer e acabei dando uma resposta qualquer. Pensando um pouco mais, identifiquei a razão em uma história antiga, do tempo de escola e finalmente divulgo aqui a verdadeira resposta.
Era uma pequena cidade na região metropolitana de Curitiba, onde passei parte da infância, foi ali que se deu a primeira paixão. No colégio, durante um inverno. Olhava a menina tímida, de olhos caídos e sorriso encantador e sentia um não-sei-o-quê de faltar o ar. Paixão primeira aos nove anos. Ela oito. O olhar distante era o único contato. Quando, no recreio, mirava por mais de cinco segundos seguidos, sem pestanejar, tomava ares de homem. Andava com o peito estufado e engrossava a voz. Perto dela, a voz não engrossava. Sequer saia. Ainda faltava.
Na ausência da voz, a escrita era a única opção. Ela tinha que saber, mas contar com os olhos nos olhos não parecia possível nem mesmo em sonho. Foi quando começou, com as mãos vacilantes, a escrever o bilhete.
“Mariana,
Seu sorriso é o meu pôr do sol.
Quer namorar comigo? ( ) Sim ( ) Não
PS. Espero pela resposta no recreio
Ass. Felipe”
Foi assim mesmo. De uma vez só se declarou e pediu em namoro. O amor como uma questão de múltipla escolha. Combinou com uma amiga para que colocasse o bilhete entre os livros e esperou. Nunca o horário do recreio demorou tanto a chegar. Cada hora era um dia inteiro. Quando o som do sinal anunciando o fim da aula o acordou do devaneio, saiu correndo para o pátio. Esperou com as mãos no bolso. Esperou com os braços cruzados. Esperou sentado. Quando já estava quase desistindo a mesma amiga se aproximou e devolveu o bilhete. “Sinto muito”, disse desinteressada. Quando desenrolou o papel, estava lá, entre os parênteses ao lado do não que ele havia escrito há pouco, a letra X desenhada à mão com uma caneta cor de rosa.
Não era possível. Ela devia ter pensado que aquele era o espaço para o sim. Não seria capaz de se recusar a viver tamanha felicidade. Não seria capaz de dizer não àquele que a via como o amanhecer, como o por do sol. Tinha algo errado. Tinha que ter. Voltou à aula com o bilhete amassado no bolso do uniforme. Não contou nada aos amigos. Calado, compreendeu ali que o amor não era algo tão simples.
Hoje, a história distante da infância faz rir. E faz lembrar o quanto escrever já me conectou ao mundo. Plagiando a jornalista Eliane Brum, sempre fui mais escutadeiro que faladeiro. E, acima de tudo, um escritadeiro. A palavra é o meu poder. Escrevo para não enlouquecer. Escrevo para não faltar o ar. Escrevo para sentir o mundo.
Quando um amor parte, eu escrevo.
Quando um amor nasce, eu escrevo.
Escrevo para disfarçar a dor. Escrevo para conformar a dor. Escrevo para dizer o que calo. Escrevo pelo que me escapa e pelo que me devora.
Escrevo porque sofro. O papel em branco é meu psicólogo. A caneta, minha voz.
Escrevo pelos dias maus e pelo mau que existe em mim.
Escrevo porque falta espaço no mundo e sobra espaço em meu quarto.
Escrevo porque meus braços são curtos demais para o abraço e longos demais para o adeus.
Escrevo quando algo me estranha. Quando algo me completa. Quando algo me desperta, escrevo. Escrevo pela mulher bonita, pelo som dos pássaros, pela música.
Escrevo pois sou feito de letras, vírgulas e frases incompletas. Minha vida não é um livro aberto. É um livro sendo escrito. Estou esperando sempre o lançamento da nova edição de mim mesmo.
Escrevo para dizer ao mundo o que sou e para pedi-lo que não me esqueça. Eu partirei, meus textos ficarão. A palavra é riso que nunca vira silêncio. É lágrima que nunca seca.
Era uma pequena cidade na região metropolitana de Curitiba, onde passei parte da infância, foi ali que se deu a primeira paixão. No colégio, durante um inverno. Olhava a menina tímida, de olhos caídos e sorriso encantador e sentia um não-sei-o-quê de faltar o ar. Paixão primeira aos nove anos. Ela oito. O olhar distante era o único contato. Quando, no recreio, mirava por mais de cinco segundos seguidos, sem pestanejar, tomava ares de homem. Andava com o peito estufado e engrossava a voz. Perto dela, a voz não engrossava. Sequer saia. Ainda faltava.
Na ausência da voz, a escrita era a única opção. Ela tinha que saber, mas contar com os olhos nos olhos não parecia possível nem mesmo em sonho. Foi quando começou, com as mãos vacilantes, a escrever o bilhete.
“Mariana,
Seu sorriso é o meu pôr do sol.
Quer namorar comigo? ( ) Sim ( ) Não
PS. Espero pela resposta no recreio
Ass. Felipe”
Foi assim mesmo. De uma vez só se declarou e pediu em namoro. O amor como uma questão de múltipla escolha. Combinou com uma amiga para que colocasse o bilhete entre os livros e esperou. Nunca o horário do recreio demorou tanto a chegar. Cada hora era um dia inteiro. Quando o som do sinal anunciando o fim da aula o acordou do devaneio, saiu correndo para o pátio. Esperou com as mãos no bolso. Esperou com os braços cruzados. Esperou sentado. Quando já estava quase desistindo a mesma amiga se aproximou e devolveu o bilhete. “Sinto muito”, disse desinteressada. Quando desenrolou o papel, estava lá, entre os parênteses ao lado do não que ele havia escrito há pouco, a letra X desenhada à mão com uma caneta cor de rosa.
Não era possível. Ela devia ter pensado que aquele era o espaço para o sim. Não seria capaz de se recusar a viver tamanha felicidade. Não seria capaz de dizer não àquele que a via como o amanhecer, como o por do sol. Tinha algo errado. Tinha que ter. Voltou à aula com o bilhete amassado no bolso do uniforme. Não contou nada aos amigos. Calado, compreendeu ali que o amor não era algo tão simples.
Hoje, a história distante da infância faz rir. E faz lembrar o quanto escrever já me conectou ao mundo. Plagiando a jornalista Eliane Brum, sempre fui mais escutadeiro que faladeiro. E, acima de tudo, um escritadeiro. A palavra é o meu poder. Escrevo para não enlouquecer. Escrevo para não faltar o ar. Escrevo para sentir o mundo.
Quando um amor parte, eu escrevo.
Quando um amor nasce, eu escrevo.
Escrevo para disfarçar a dor. Escrevo para conformar a dor. Escrevo para dizer o que calo. Escrevo pelo que me escapa e pelo que me devora.
Escrevo porque sofro. O papel em branco é meu psicólogo. A caneta, minha voz.
Escrevo pelos dias maus e pelo mau que existe em mim.
Escrevo porque falta espaço no mundo e sobra espaço em meu quarto.
Escrevo porque meus braços são curtos demais para o abraço e longos demais para o adeus.
Escrevo quando algo me estranha. Quando algo me completa. Quando algo me desperta, escrevo. Escrevo pela mulher bonita, pelo som dos pássaros, pela música.
Escrevo pois sou feito de letras, vírgulas e frases incompletas. Minha vida não é um livro aberto. É um livro sendo escrito. Estou esperando sempre o lançamento da nova edição de mim mesmo.
Escrevo para dizer ao mundo o que sou e para pedi-lo que não me esqueça. Eu partirei, meus textos ficarão. A palavra é riso que nunca vira silêncio. É lágrima que nunca seca.
Nossa...que bonito!
ResponderExcluirLi o seu texto e gostei muito! Confesso que estava escrevendo um comentário pelo celular, mas sou tão desastrada que cliquei em um lugar errado e perdi tudo! Mas como sou muito teimosa e gostei bastante do que você escreveu, liguei o computador só para vir aqui elogiar o seu texto. (Mesmo que fique diferente do comentário bonitinho que eu estava escrevendo anteriormente).
Eu me identifiquei muito com o que você escreveu, pois eu também tenho esse hábito.
Para quem é sensível e sente o mundo com profundidade, penso que a escrita é um bom recurso para você se organizar, se entender e por para fora aquilo tudo que parece que fica acumulado, bagunçado e misturado dentro da gente.
Escrever é tão bonito! É elegante, é chique...Coisa fina! Rs
É saber brincar com as palavras e ter em mente que cada uma carrega um peso, um sentido.
Quando você escreve, você tem o poder de tornar o seu texto mais ou menos intenso, você decide...
É combinar as palavras e ver qual irá expressar melhor aquilo que você está sentindo.
Eu não sei para as outras pessoas... Mas, para mim, escrever é uma obra de arte. E assim como todo tipo de arte, precisamos lembrar que algumas pessoas saberão apreciar e outras nem tanto.
Tenho 28 anos e confesso que iria adorar se recebesse um bilhetinho escrito. Muito mais do que ficar ouvindo palavras vazias que a gente ouve bastante por aí.
Podem achar bobo, antigo, o que for. Pensam isso porque não sabem reconhecer a preciosidade que é escrever e misturar os sentimentos com as linhas de um papel.
Escrever desse jeito não é para todos...Requer coragem.
Enfim, é isso..
Faz tempo que você escreveu esse texto, mas gostei tanto que quis comentar.
Parabéns!
Marilia